sábado, 18 de setembro de 2010

Às minorias esclarecidas da extensão florestal do Acre

Uma visão pessoal: desejo reflexão e discernimento em suas escolhas!

DIONES SALLA (*)

Li no Pagina 20, um artigo intitulado Carta aberta aos extensionistas, escrito por Marcos Inácio Fernandes (Marcão), que já ocupou produtivamente a cadeira de Secretário de Assistência Técnica e Extensão Rural, no governo Jorge Viana. Nesse documento ele faz uma retrospectiva da vida de dois companheiros, Sibá Machado e Cardoso, ambos lutando merecidamente por uma vaga na Câmara dos Deputados e na Assembléia Legislativa, respectivamente. Não há mais muita coisa a dizer sobre eles, o Marcão se encarregou de dizer quase tudo. Faço minhas as suas palavras.

Fazendo justiça também a outro parlamentar. Quero ampliar a lista dos companheiros citados pelo Marcão com um terceiro nome: o do Deputado Federal Fernando Melo, candidato a reeleição pelo PT, com o número 1399.

Fernando Melo foi o segundo deputado federal do Brasil que mais teve emendas individuais aprovadas em 2009 e pagas em 2010. A informação é do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), perdendo somente para Ciro Gomes (PSB-CE). Durante o seu mandato, o setor rural foi o que mais recebeu recursos, totalizando cerca de R$ 20 milhões, representando 70% de suas emendas.

Frota agrícola para roça sem fogo

Entre as mais importantes emendas de Fernando no biênio 2009-2010 estão a aquisição de nove caminhões para compor a frota agrícola da Prefeitura Municipal de Rio Branco, para transportar a safra agrícola dos ramais; aproximadamente R$ 7 milhões para a Embrapa-AC, suficientes para a aquisição de 122 microtratores e dois tritucaps para atuarem em roçados sem o uso do fogo. Essas máquinas e equipamentos foram distribuídos em todos os municípios do Acre.

O objetivo deste documento, entretanto, não é divulgar apenas as emendas aprovadas pelo deputado, dirigidas à agricultura, mas principalmente desanuviar alguns atributos que são imprescindíveis para credenciá-lo a continuar ocupando uma das cadeiras da Câmara, fundamentais para manter a representação do Acre em nível elevado.

Comento a atuação do parlamentar e a relaciono com as do grupo político que lhe dá sustentação. O Deputado Fernando Melo, definitivamente, não é a ‘menina dos olhos’ do grupinho de amigos do PT, com exceção daqueles poucos que gozam de um melhor nível de lucidez, discernimento e de imparcialidade.


Ousadia com resultados

Falar da vida pregressa de quem quer que seja é pouco produtivo, pois, de modo geral, somos todos melhores no presente. Exemplifico por mim: sou a melhor versão de mim mesmo de todos os tempos. Penso que isso serve para a grande maioria. Para o Deputado Fernando Melo não deve ser diferente.

Para exemplificar as virtudes do Deputado Federal Fernando Melo, usarei a parábola da piscina, que conta a história de um grupo de indivíduos, já com a água lhes cobrindo o rosto, mesmo estando na ponta dos pés, que recebem a ordem permanecerem imóveis, caso contrário o movimento das águas (o banzeiro) obrigaria os demais aprenderem a nadar. Desobediência à ordem significa comprometer a sobrevivência do grupo. Na vida real é o mesmo que diminuir os privilégios, a comodidade e o sossego de muita gente.

O rótulo de perturbador, de agitador e de muitas outras coisas é uma legitima expressão de defesa de quem não quer mudar. Mais tarde, descobre-se que é justamente aquele que se aventurou em sair da piscina que adquire as credenciais para salvar o restante do grupo. A história tem nos mostrado que em situações de crise são sempre esses ‘desajustados grupais’ que apresentam os atributos mais consolidados para socorrer aqueles que o desprezam (joga pedra na Geni).

Outra referência que pode ser comparada com a atuação do Deputado Fernando Melo é encontrada no livro “A História de Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach, publicado originalmente nos Estados Unidos, em 1970, com o título de Jonathan Livingston Seagull — a story. O documentário mostra a vida de uma gaivota, a mais observadora do bando, que resolve fazer autocríticas sobre o modo como os seus semelhantes se comportam em relação à vida e à sobrevivência da espécie. Enquanto é escorraçada pelos que só enxergam o peixe, ela treina vôos mais altos permitindo-lhe analisar o continente e o mar, indagando: qual será o futuro do bando se o barco não mais chagar?

É preciso enxergar

Por que continuamos voando tão baixo se os gaviões e as águias estão a nos espreitar? Por que somos reféns das sobras de peixes descartadas diariamente pelos barcos pesqueiros que vêm do mar? Estaríamos nos acomodando e os jovens desaprendendo a pescar? Não haveria outro modo para se alimentar? Por que continuamos fazendo sempre a mesma coisa, geração após geração, e os meus amigos não conseguem enxergar?

Do mesmo modo que o Fernão (a gaivota), as ações do parlamentar Fernando Melo são sempre acompanhadas de reflexão e de um desconforto íntimo, retirando-lhes o sossego: e se Brasília deixar de nos bancar? E se o FPE não mais chegar? E se o Rio Madeira secar? E se o aviamento não chegar? E se o nosso jeito de preservar significa deixar plantar, de industrializar, de beneficiar e de guardar? E se a friagem aumentar, a mata desfolhar e o fogo se aproveitar? De que modo os índios, os agricultores e os ribeirinhos vão se virar? Como será nosso amanhã se o grupo resiste em mudar? A cegueira coletiva também vai me aprisionar?

Fernão Capelo (a ave) se caracteriza como uma gaivota de vôos ariscados, desbravador de novos horizontes, desgarrado, agitador, um exemplo de luz e de vontade próprias que gradualmente vai contagiando os indivíduos de maior ‘abertismo’; o discernimento que superou o instinto do bando.

Fernando Melo (o mamífero) se caracteriza como um político de ações diferenciadas, voltadas para o coletivo e não para os benefícios individuais; sujeito que escolhe seus assessores pelo profissionalismo e não pelo partidarismo (altruísmo), característica que não agrada àqueles que fazem trocas (egoísmo). Definitivamente, um político sem coleiras.

O custo de tudo isso é elevado. A vigilância é intensa e não vai demorar muito para que as idéias de Fernão e de Fernando cheguem aos ouvidos dos chefões dos seus bandos. Das ruminações cerebrais e das babas surge à indiferença, a desconfiança, os boicotes, as palmatórias psicológicas, cessam sutilmente os convites e surgem os primeiros deboches.

Hegemonia

A única coisa que realmente importa é que a rebeldia esteja contida e que a hegemonia do grupo político seja mantida. No final da história, a gaivota (Fernão) continuou firme e determinada em suas aventuras, mas por não obedecer às determinações dos seus controladores e por não resistir à sede pelos conhecimentos novos (neofilia) foi expulsa do bando. O outro, ainda resiste, mas não se sabe até quando.

Prezados amigos da Extensão Florestal e outros: concordo que uma caminhada independente soe para o senso comum como uma atitude de rebeldia de um político que prefere caminhos desconhecidos e estranhos, mas, por outro lado, os que seguem a procissão têm o instinto do rebanho. Desejo reflexão e discernimento em suas escolhas!

(*) Doutor em Energia na Agricultura; Extensionista Rural; pensador independente, sem sujeição ou submissão a quem quer que seja.



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